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Logo no começo do projeto já começaram os imprevistos que deveriam passar a ser previstos caso quisesse seguir com a ideia de publicar uma foto por dia nos primeiros 365: fechei as fotos da São Paulo Fashion Week para a revista FFW e as mídias da SPFW, o que tomaria literalmente meus dias inteiros naquela semana entre fotografar do primeiro backstage ao último desfile + editar e entregar as fotos ali mesmo, e só tinha algumas horas antes de começar essa maratona para garantir as próximas fotos do 365nus.

Pensei em quem de São Paulo toparia participar daquele projeto que mal existia e lembrei da Jake, que eu havia conhecido pouco tempo antes, em trabalhos que fizemos nas semanas de moda internacionais, e havíamos conversado bastante sobre assuntos que envolviam representações de nudez. Achei que seria um porto seguro tanto pela troca de ideias anteriores quanto por eu ter uma imagem da Jake bem adrógine – ela própria já havia começado uma discussão de padrão de gênero e sua própria identidade, que hoje varia entre a neutralidade e fluidez – e como eu queria fugir de outros trabalhos onde necessariamente a representação do nu envolvia uma atmosfera sensual / erótica, fotografar uma mulher que não fosse exatamente o padrão representado nas fotos que eu não queria reproduzir parecia um bom começo – mas eu não contava com um detalhe: essa era a imagem construída por ela, por escolha de como se mostrar, seja no seu discurso e atitudes, seja em como escolhia se expressar com o que vestia, e que construíram aquela imagem dela na minha cabeça; sem as roupas ela tem um corpo totalmente dentro desse padrão, e as ideias que eu tinha pra foto caíram na mesma hora.

Pouco tempo depois eu entendi que independente do estereótipo, não é a pessoa que você fotografa que vai fazer o resultado ser uma réplica do estabelecido: há um conjunto de fatores muito maior na criação de uma imagem que envolve não só o lado estético, mas o olhar e as intenções das pessoas que criam aquela imagem (as fotografadas e as que fotografam, no caso), e definitivamente uma foto com a Jake não seria “mais uma foto de uma mina gostosa na varanda com o taco de madeira” etc etc etc.

ENFIM, ali na hora eu achei que a solução seria “esconder” o corpo dela, fotografando no contra-luz e mostrando apenas a silhueta. Não foram só essas fotos que fiz com a Jake, e vi que essa era apenas uma das soluções, mas o post já tá grande demais pra mais história, então por enquanto compartilho só essas mesmo 🙂

#4: Jake

Ainda antes do começo oficial da primeira etapa do #365nus, teve a segunda série de projetos autorais do I Hate Flash, dessa vez com o tema “fantasia”.
Achei legal colocar essas fotos por aqui por alguns motivos, mas principalmente porque foi a primeira vez que a Juju e o Chico me ajudaram diretamente em um projeto autoral (uma sendo modelo ficando nua em público porque não tínhamos acesso a nenhuma área aberta particular, e o outro se equilibrando em uma escada dando movimento aos tecidos e quase caindo algumas muitas vezes), e sem dúvida alguma os dois foram as pessoas que mais me ajudaram na realização do projeto (e de muita coisa muito valiosa nessa vida).
As ilustrações foram feitas pelo meu amigo Diego Barcellos.

Fotos para a #calor, parte de uma série de projetos autorais internos do I Hate Flash, que inconsciente mas não coincidentemente eu sempre dei um jeito de tirar a roupa dos amigos que topam participar – no caso, Teresa e Rafa fazendo a primeira coisa que eu penso quando chega essa época no Hell de Janeiro: mergulhar pelado.
Foram as primeiras fotos testando minha caixa de estanque, e eu queria pegar aquele moment mais confuso de um mergulho, com bolhas de ar em volta dos corpos, entre os movimentos de chegar ao fundo e voltar a superfície. Fiz alguns testes e achei mais da hora o resultado no contra, pra dar essa confusão da cor do Sol entrando na água contra o reflexo dos azulejos da piscina (e pra isso eles mergulharam muitas vezes e inalaram muita água, já me desculpei e agradeci bastante por isso 😅).

#2 e #3: Teresa e Rafael

Começando o ano, recomeçando o projeto. ~Igual mas diferente~.

O último post que eu havia feito aqui foi uma despedida: meu avô foi meu amigo, meu professor e o motivo de muitos começos na minha vida. Sem dúvida alguma, inspiração não só pra a̶q̶u̶e̶l̶e̶ / este projeto – que o fato dele ter sido vice-presidente da Associação Carioca de Naturismo e desde sempre ter me ensinado a encarar o corpo / a nudez com a naturalidade que lhe pertence, com certeza foi uma influência direta –, mas para tantas fases da minha vida; desde me ensinar mitologia grega enquanto assistia (TODOS) episódios de Cavaleiros do Zodíaco comigo até ter me incentivado a entrar “de verdade” no mundo mágico da fotografia me dando sua Pentax K1000 de estimação, passando por ter me ensinado a pedalar, por achar que os beatniks eram uma ótima literatura para um moleques de 12 anos kk, por ser tão sem-vergonha (no melhor dos sentidos, mas acho que só quem o conheceu vai entender exatamente), enfim, infinitas reticências.

O lado egoísta sempre bate quando perdemos alguém, mas é no mínimo injusto ficar triste com algo em relação a ele, muito menos deixar de lado algo que ele foi o maior incentivador.
Foram-se as risadas ininterruptas, os almoços de domingo, as conversas inteligentes mesmo nos assuntos mais idiotas, as mil histórias da versão brasileira e gente boa do Bukowski… Mas ficam as lições de vida, os incentivos, as lembranças lindas, a energia 101% positiva e todo o amor transbordante.
Mememé, eu te amo. Obrigado por tudo.

Ah, e contando o que será igual mas diferente: vou retomar o projeto sim, mas em vez da contagem serem os 365 dias de um ano com a pressão de uma foto diária, a contagem serão 365 pessoas, no tempo que for necessário pra elas – e, como mais um ensinamento precioso ao longo desses anos, também respeitando o tempo que for necessário pra mim. É isto.


#1: Hugo